Folha – Como o sr. explica os ataques dos últimos dias?
Robinson Faria – Tudo isso surgiu porque
o Brasil sofre epidemia de violência muito grande. E isso tem várias
causas. Tem a crise econômica, tem a questão da droga e a falta de
proteção das nossas fronteiras. No caso específico dos ataques, eles
começaram depois de uma decisão nossa de instalar bloqueadores de
celular nos presídios.
Fui alertado que em outros
Estados do Nordeste, como o Ceará, houve retaliações aos bloqueadores.
Mesmo assim, mantivemos a nossa decisão.
Com os bloqueadores, desmontamos o
escritório de trabalho de bandidos que atuavam dentro dos presídios
comandando grupos e estabelecendo metas de assaltos a banco, de tráfico
de drogas.
E a tática dos bandidos de atacar ônibus e prédios públicos?
A tática deles é intimidar o Estado,
criar um clima de cidade sitiada. Querem deixar a população em pânico
para o governo recuar. Mas eles não vão conseguir. O povo apoia as
nossas medidas de enfrentamento. Os ataques têm sido comandados por uma
facção chamada “Sindicato do RN”, que atua em parceria com o Comando
Vermelho, do Rio. Localmente, eles são adversários do PCC. Mas nossas
ações de enfrentamento têm mobilizado toda a polícia.
Já prendemos ou apreendemos mais de 85
pessoas, inclusive muitos menores que são usados nos ataques porque têm
as regalias da lei.
Os bloqueadores de celular, que motivaram os ataques, já estão funcionando?
Estão sendo instalados. Um deles começou
a funcionar hoje [quarta-feira, 3] no presídio de Parnamirim. Mas a
nossa ideia é instalar os bloqueadores em todos os presídios do Estado. O
próximo será o de Alcaçuz, que é um dos maiores e mais importantes. Não
vamos recuar.
O governo anunciou a prisão de 3 supostos chefes dos ataques. As ações foram comandadas dentro dos presídios?
Alguns estavam fora e atuam na parte
logística dos ataques. Outros estavam dentro dos presídios e inclusive
gravaram áudios distribuídos nas redes sociais, desafiando o Estado e o
governador.
Mas a Polícia Civil alega que todos estes áudios são falsos.
A maioria é boato mesmo. Mas alguns são
verdadeiros e foram feitos dentro dos presídios. Por isso, estamos
mandando esses líderes responsáveis pelos ataques para presídios
federais.
Como será a atuação das Forças Armadas nos próximos dias?
Serão 1.000 homens do Exército e 200 da
Marinha. A princípio, as Forças Armadas vão atuar em áreas estratégicas
como na defesa do aeroporto, corredores de ônibus e áreas turísticas.
Enquanto isso, a nossa polícia ficará mais livre para atuar na
inteligência.
Qual o impacto desta onda de violência no turismo, um dos principais setores da economia do Rio Grande do Norte?
Os hotéis continuam lotados, nenhum
turista foi assaltado. É claro que num primeiro momento existiu um certo
esvaziamento de bares e restaurantes. Mas percorri algumas áreas e vi
que alguns já estão cheios de turistas.
Como tem sido os últimos dias para o sr.?
Quase não durmo, parei minha agenda,
deixei de ir para a abertura da Olimpíada, para encontro de
governadores. Mas estou fazendo a coisa certa para trazer a segurança de
volta. O Rio Grande do Norte sempre foi tranquilo, não tinha violência.
Mas parece que nenhum lugar no Brasil atualmente é seguro.
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