Com a situação inédita no
mundo de mais de 1.200 casos suspeitos de microcefalia relacionados à infecção
pelo vírus Zika no Brasil, o presidente da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva, Gastão Wagner Campos, defendeu que é preciso mudar a estratégia de
combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor dos vírus da dengue, da chikungunya e
do Zika.
Para ele, o país vive uma
emergência sanitária. “Temos uma emergência sanitária. Uma parte importante
dessas crianças que têm microcefalia morre antes de nascer, na gestação ou logo
na primeira infância. outros têm convulsões, problemas neurológicos gravíssimos,
deficiência intelectual, motora. É um problema muito grave”, disse, em
entrevista à Agência Brasil.
Segundo o especialista, o
governo brasileiro fracassou no combate ao mosquito e um dos motivos é a falta
de coordenação entre as unidades federativas. Ele afirma que a população não
pode ser responsabilizada.
Doutor em saúde coletiva e
professor da Universidade Estadual de Campinas, Campos diz que deve haver
integração entre os governos municipais, estaduais e federal. “Eu defendo que
sejam formados grupos que unifiquem os recursos do Ministério da Saúde, do
estado em questão e do município sob um único comando, e que esse grupo possa
contar com o apoio das Forças Armadas, para ir de casa em casa apoiando as
pessoas a mudar, por exemplo, lajes, pôr calhas, no escoamento de criadouros”.
Segundo o especialista, alguns
municípios agem, outros não e, com isso, a infestação pelo mosquito não
diminui. De acordo com Campos, a ação de ir de casa em casa ajudando a
população a eliminar os criadouros, de ter dia certo para recolher “bagulhos”,
tem que durar anos até que a circulação do mosquito registre queda substancial.
O Aedes aegypti tem grande
capacidade de adaptação, por isso é improvável que se chegue à eliminação do
vetor. O professor observou que é possível diminuir drasticamente os criadouros
também com sistemas de coleta de lixo mais eficientes e com uma limpeza urbana
mais sistemática e rigorosa.
Apesar das críticas ao combate
ao mosquito, Campos elogiou o governo pelo alerta rápido sobre as consequências
do vírus Zika. “É muito importante avisar a população sobre os riscos”, disse,
acrescentando que é uma decisão prudente, apesar de muito pessoal, adiar planos
de gravidez.
No último sábado (5), o
governo federal divulgou o Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia,
dividido em três eixos de ação: Mobilização e Combate ao Mosquito; Atendimento
às Pessoas; e Desenvolvimento Tecnológico, Educação e Pesquisa. Para o primeiro
eixo, o documento prevê a mobilização de agentes comunitários a fim de reforçar
a orientação à população sobre o combate ao mosquito nas residências. Pelo novo
plano, serão feitas mobilizações com agentes comunitários de saúde e agentes de
combate a endemias.
Em nota, o Ministério da Saúde
informa que, para o controle do vetor, o governo federal vai adquirir e
disponibilizar equipamentos para a aplicação de inseticidas e larvicidas e
garantir a compra dos insumos. As Forças Armadas e a Defesa Civil vão dar apoio
logístico para o transporte e a distribuição de inseticidas e de profissionais
de saúde. Os dois órgãos também vão atuar em visitas a residências para
eliminação e controle do vetor, além de mobilizações de prevenção, como
mutirões.
Agência Brasil
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