Uma
recém-nascida morreu poucas horas após nascer no Hospital Municipal da
Mulher em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, na manhã desta
segunda-feira (3). De acordo com a família da menina Isadora, a bebê
teria ingerido fezes ainda na barriga da mãe, uma jovem de 16 anos.
Ainda segundo a família, a gestante procurou a unidade e, por duas
vezes, foi preparada para a cesariana, mas teve os partos cancelados por
médicos que assumiram em trocas de plantão. Mesmo sendo portadora de
sífilis, os obstetras optaram, nas duas ocasiões, em aguardar pelo parto
normal. O hospital alega que a infecção não interfere no procedimento.
A
decisão foi tomada com base no resultado da ultrassonografia feita na
unidade, que apontou menor tempo de gestação do que o exame apresentado
pela família, feito em clínica particular. A tia da bebê, Priscila
Benevides, afirma que o problema começou na última quinta-feira (30).
"Minha
irmã teve uma infecção (sífilis) durante a gravidez e, por isso, era de
risco. O primeiro médico plantonista disse que não poderia ser feito
parto normal por causa da infecção. Por isso ela foi encaminhada para o
pré-parto, para que aguardasse pela cesariana. Mas, com a troca de
plantão, os médicos a levaram para uma enfermaria, onde ficou jogada sem
qualquer atenção", reclama Priscila.
A
tia relata que no sábado (1º) aconteceu tudo de novo. "O médico que
estava pela manhã a encaminhou para o parto, por isso, ela permaneceu em
dieta zero até as 16h. Mas a médica que entrou depois disse que ela era
muito nova para fazer cesariana e teria que fazer o parto normal. Ela
não quis dar alta, mas disse que era melhor ir para casa e esperar. Como
a minha irmã estava sofrendo, sem qualquer atenção, decidimos ir e todo
mundo viu a gente saindo", lembra Priscila.
A adolescente só procurou a unidade após sentir dores e ter a bolsa rompida no domingo (2).
"Voltamos
ao hospital mas o parto só foi feito na segunda de manhã porque não
tinha anestesista de madrugada. A Isadora nasceu, recebeu uma vacina,
foi levada ao berçário e depois recebemos a notícia de que ela morreu",
lamenta a tia da criança.
No
entanto, o diretor técnico do Hospital da Mulher, o médico Luiz Arthur
Resende, nega que houve negligência e que todos os procedimentos
realizados na paciente foram corretos. Ele afirma, ainda, que a criança
pode ter tido complicações no período em que a mãe deixou a unidade
hospitalar.
"Nós
fizemos os exames normalmente na quinta, na sexta e no sábado. Só que
não pudemos acompanhar a situação no domingo porque ela fugiu do
hospital. O tipo de infecção que ela teve não impede o parto normal, por
isso o mais correto era esperar", afirmou.
A
reportagem do G1 tentou contato, por telefone e por e-mail, com a
Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro para
questionar se é recomendado o parto normal no caso da gestante ser
portadora de sífilis, conforme relatou o hospital, mas até a publicação
desta matéria não obteve resposta.
Problemas no ultrassom
Priscila
questiona o resultado da ultrassonografia feita pelo hospital e que
pode ter colaborado com a tragédia. "A Isadora já estava com 39 semanas
na quinta, mas o exame do hospital apontou 35. Eles disseram o tempo
todo que iriam se basear no exame feito no hospital. Outros pais estão
assustados por causa desse mesmo problema. A máquina de ultrassom
precisa ficar com um ventilador ligado em cima para não queimar. Está
tudo errado", completou Priscila.
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