Um exército de biólogos e
agrônomos prepara suas armas e está prestes a entrar no campo de batalha
para uma guerra fratricida entre dois Estados nordestinos. De um lado, o
Piauí; do outro, o Rio Grande do Norte. O motivo da peleja é uma árvore
gigante que produz toneladas do que não é nem fruta, mas um pedúnculo:
caju. Cajueiro da Praia (PI), cidade de 6.000 habitantes cercadas de
dunas e falésias, é a desafiante anônima da famosa Parnamirim (RN), que
em 1995 entrou para o “Guinness Book”, o livro dos recordes, como a dona
do “maior cajueiro do mundo”.
Os dois cajueiros possuem
uma copa maior que as medidas oficiais de um campo de futebol padrão
Fifa. O Cajueiro de Pirangi, no Rio Grande do Norte, tem 8,5 mil metros
quadrados, enquanto o CajueiroRei, do Piauí, tem alegados 8,8 mil
metros quadrados, que ainda carecem de comprovação. As árvores gigantes
são resultado de uma anomalia que faz com que os galhos cresçam para os
lados. Com o próprio peso, eles atingem o chão e criam novas raízes, que
crescem como se fossem uma outra árvore.
EM BUSCA DE PROVAS
A origem da polêmica data
de 2010, quando o engenheiro agrônomo Welington Rodrigues de Souza mediu
o cajueiro do Piauí e disse que ele superava o potiguar. Agora, o
governo piauiense decidiu contratar a Universidade Federal do Piauí para
fazer um estudo genético e comprovar que o cajueiro gigante é uma única
árvore. Depois, vai bancar auditorias independentes para pleitear o
título de maior cajueiro do mundo no “Guinness Book”. “Vamos para cima. O
plano é fazer os estudos necessários e buscar reconhecimento
internacional para o nosso cajueiro”, diz o secretário estadual de
Turismo do Piauí, Flávio Nogueira. O governo ainda não tem estimativas
de custo.
CONTRAOFENSIVA
No Rio Grande do Norte, a
iniciativa dos concorrentes é vista com ceticismo. Mesmo assim, os
potiguares preparam uma contraofensiva, intensificando as ações em torno
do seu cajueiro, que recebe cerca de 500 mil visitantes por ano e cobra
R$ 8 (ou R$ 4 a meia) pela entrada. A cidade tem 202 mil habitantes.
“Se os concorrentes querem ter o maior cajueiro, vão ter que provar”,
provoca o secretário de Turismo de Parnamirim, Laizomar Wanderley.
Segundo ele, o CajueiroRei do Piauí só será maior no dia em que a
árvore de Pirangi parar de crescer. “E isso não vai acontecer”, diz.
Para garantir, a prefeitura construiu um caramanchão para que a copa da
árvore cresça por cima da estrada. O município também estuda
desapropriar e demolir casas na região para abrir espaço.
ALMA DO NEGÓCIO
Como toda ação de marketing
que se preze, a guerra pelo maior cajueiro já tem seus
garotospropaganda. No Rio Grande do Norte, a campanha tem o apoio de
Tom Rodrigues, 30, conhecido como Tom do Cajueiro. Hoje empresário, Tom
foi guia turístico mirim no local nos anos 90 e ganhou notoriedade após
participar de um programa de Regina Casé. “O Piauí pode até reivindicar,
mas a gente ganha essa com certeza. Não existe cajueiro maior, mais bem
cuidado e amado do que o nosso”, garante ele. Do lado piauiense, o
publicitário e ecoaventureiro Alcide Filho defende a união dos
conterrâneos em torno da causa: “A disputa está ganha. Majestade é só
uma e nós temos o CajueiroRei”. E chama para a briga: “Podem vir
quentes que estamos fervendo”.
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