Segundo números obtidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos
Neste ano, em um levantamento até outubro, os episódios de preconceito contra gays, lésbicas, travestis e transexuais já superam a marca de 6.500 denúncias.
Os
jovens são as principais vítimas dos atos violentos e representam 33%
do total das ocorrências. A cada quatro casos de homofobia registrados
no Brasil, três são com homens gays.
Estudante de Direito na USP, André Baliera, 29, foi espancado em 2012 por dois homens no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Ele voltava a pé para casa pela rua Henrique Schaumann quando dois
jovens o ofenderam por causa de sua orientação sexual. Depois de uma
discussão, acabou agredido pela dupla.
"Nos primeiros dias,
não saía de casa. Fui ao psiquiatra, tomei remédios e fiquei seis meses
sem passar na frente do posto em que fui agredido", conta Baliera.
Quase dois anos depois, receio e medo ainda estão presentes no dia a dia, assim como o preconceito. "Em junho
deste ano, estava com meu namorado assistindo a um filme em Santos e
fomos xingados de 'viados' dentro do cinema. Chamei a polícia na hora",
disse.
Para
a SDHPR, o crescimento das denúncias é um fator positivo para combater a
violência homofóbica. A coordenadora da área LGBT, Samanda Freitas, diz
que o desafio é apurar os crimes.
"Precisamos
melhorar o atendimento desses casos e isso passa por um treinamento dos
policiais para que identifiquem os crimes de ódio LGBT e investiguem
com o mesmo cuidado que as demais ocorrências", afirmou.
Cerca
de 26% dos casos acontecem nas ruas das grandes cidades. Em 2007, a
transexual Renata Peron voltava de uma festa com um amigo quando nove
rapazes os cercaram na praça da República, centro da capital paulista.
Trinta minutos de violência foram tempo suficiente para chutes, socos,
xingamentos, três litros de sangue e um rim perdidos por Renata.
"Ninguém
foi preso e fica um sentimento de pena. Nem bicho faz essas coisas.
Passei seis meses fazendo terapia para entender a razão de ter sido
agredida."
Assassinatos
O
filho de Avelino Mendes Fortuna, 52, não teve a mesma sorte. Nesta
quinta-feira (20) fez dois anos que Lucas Fortuna, 28, morreu
assassinado em Santo Agostim, no Grande Recife,
em Pernambuco. Jornalista, foi espancado por uma dupla de homens e
jogado ainda vivo no mar. Os assassinos foram presos e confessaram o
crime por homofobia, mas no inquérito a polícia trata o caso como
latrocínio.
Depois
da morte, Avelino virou ativista na ONG Mães pela Igualdade, que luta
pelo fim da discriminação contra homossexuais e pelo engajamento dos
pais LGBTs na vida de seus filhos. "O pai que não sai do armário
juntamente com seu filho se torna cúmplice da morte e da agressão dele
no futuro", afirmou. "Um dos nossos objetivos é fazer com que os pais
participem, lutem pelos direitos da sua família."
Preconceito
A
discriminação e a violência psicológica, no entanto, estão entre as
ocorrências mais comuns registradas na SDHPR e delegacias especializadas
em Direitos Humanos. Cerca de 76% dos casos são de homossexuais que
sofrem preconceito no trabalho, assédio moral e perseguição.
No
Maranhão, o professor universitário Glécio Machado Siqueira, da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tem sido alvo de ofensas pelos
estudantes de Ciências Agrárias. "Desde o começo do ano, recebo ameaças,
injúrias e boicotes das minhas aulas por causa da minha orientação
sexual. Entrei em contato com todas as instâncias da universidade e a
resposta que recebi foi o silêncio", reclama.
A
Organização dos Advogados do Brasil (OAB) entregou queixa-crime para a
UFMA. A reportagem entrou em contato com a universidade, que não se
manifestou. "É triste ver que em uma universidade, onde estamos para
expandir conhecimentos, acontece essa homofobia velada. A minha tristeza
foi convertida em luta pelos direitos humanos. Espero que mais
homossexuais tomem coragem para fazer o mesmo."As informações são do
jornal"O Estado de S. Paulo".
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